sexta-feira, 6 de abril de 2018

Nadando contra a corrente


  Maria Lúcia era muito esforçada, desde jovem mostrou disposição e inteligência. Um dia, surgiu uma oportunidade rara de ascensão profissional e ela engoliu o acanhamento, pedindo a um colega sua indicação. Conseguiu a colocação almejada. Por anos sentiu que aquela empresa era sua segunda família, as referências e idéias eram muito similares. Mas após mais de uma década, muito coisa mudou. Percebeu com desgosto o quanto! Constrangida se viu obrigada a se afastar de alguns e houve até quem lhe acusasse de ingratidão. Sequer podia dizer a razão. Tempos atrás descobrira que naquela empresa, os executivos de alto escalão desviavam recursos, empregavam gente desnecessária, sonegavam impostos, falsificam notas e muito mais. Maior absurdo foi saber que, alguns de seus colegas sabiam e nada de mal viam naquilo tudo, inclusive consideravam coisa normal do "jeitinho" brasileiro. Disfarçou o choque e concluiu: Estes já estão usufruindo do "esquema"!
O tempo passou, até que chegou uma auditoria solicitada pelos sócios.  Aquilo foi como um raio caindo e eletrocutando uma boiada! O buchicho corria pelas salas e ante salas. Qualquer olhar perdido era visto com suspeita, conversas particulares estouravam o desconfiômetro de todos. Chamaram a Maria Lúcia pra uma dessas, onde foi indagada sobre seu superior. Fez elogios ao mesmo, reconheceu o quanto lhe devia pela oportunidade profissional lhe dada a anos, contudo... era inegável sua desclassificação executiva. Os auditores lhe pediram uma nota para essa desclassificação, deu-lhe 10. Depois voltou as suas atividades debaixo de olhares tortos dos que passavam por ela. Ficou claro que a sua segunda família já a execrara. Em poucos dias a auditoria rendeu até prisões. Maria Lúcia ficou meses recebendo bilhetinhos anônimos nada amigáveis, mas era profissional e tinha um contrato recém renovado a cumprir. De experiência, ganhou a certeza que empresa não é família.