sábado, 21 de agosto de 2010

NÓS, SERES PERECÍVEIS

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Meu avô materno era padrasto de minha mãe. Era um homem culto, um autodidata...um devorador de livros. Cresci vendo-o sempre a ler e fazer anotações a borda dos livros -tenho o mesmo costume- com o tempo resolvi dar uma olhada nestas leituras e descobri um outro personagem além do meu avô.
De seu primeiro matrimônio meu avô"drasto" tinha dez filhos. Em nenhum eu percebi o gosto por ler e pesquisar, muito menos em seus netos legítimos. Ele adorava encontrar-me em seu escritório a ler ou datilografando algo em sua Remington (o xodó dele...kkk).
Quando ele faleceu, minha avó doou sua pequena biblioteca a uma instituição religiosa (consegui "surrupiar' alguns livros e anotações, claro!! kkk) Até hoje penso que ele sabia muito mais do que havia naqueles livros. Mas a morte levou-o, junto com o saber adquirido através da vida e de seus estudos autodidatas. Agora, quantos lembram dele?  Suas palavras? Seus conselhos?
Imagino no futuro que o mesmo destino me é reservado. Tenho várias aptidões manuais e artísticas, no entanto nenhum dos meus filhos herdou alguma. Tudo que sei, disse, aprendi ou ensinei...quem lembrará? Quem fará um bolo com alguma receita que dei? Quem guardará um desenho feito por mim? Quem fará uma peça de crochê com aqueles pontos que eu ensinei? Alguém ouvirá minhas músicas preferidas? E tantas outras coisas, meu Deus!! Serei esquecida como todos o são com tempo. Ficarão as fotos guardadas em algum lugar. Meu cheiro se perderá. Meu tom de voz quando alegre ou triste também.
Agora entendo, por que tanto dizem que devemos viver a vida com intensidade. Verdade, que há um tempo em que nos consideramos eternos, que o tempo jamais passará para nós. Doce ingenuidade!!